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17 de junho


Por Tamires Puhl Pereira


Hoje é quinta-feira e o dia seguiu conforme os demais: muita coisa para dar conta em frente ao computador. Por volta das 17h, precisei sair para buscar meu carro na oficina (ultimamente ele tem visitado o mecânico mais do que deveria). Na volta para casa, nas várias paradas no sinal vermelho, venho pensando nas coisas que ainda tenho por fazer, inclusive neste “despejo” que agora não faz mais parte da lista de tarefas atrasadas. É impressionante como não conseguimos desligar. Um banho, a espera em uma fila, uma parada no trânsito. Em todos os momentos aproveitamos para pensar e planejar. Acho que é o reflexo da profissão que exerci por anos, afinal cabeça de professor não desliga, não é verdade? 

O centro de Cachoeirinha, município onde eu moro, é bastante movimentado, principalmente nesses horários. De repente, minha atenção é tomada pela frase “Quando o sol bater na janela do teu quarto, lembra e vê que o caminho é um só". Reconheceu a letra? É uma música da banda Legião Urbana que começou a tocar na rádio. Música que me fez olhar para frente, ainda parada na sinaleira, e reparar no pôr do sol. O céu está colorido com um vermelho alaranjado. Aquela paisagem que daria uma bela fotografia. Aquela paisagem que, na maioria das vezes, não consigo admirar porque estou dentro de casa em frente ao computador. Aquela paisagem que me fez enxergar que temos muitos problemas e enfrentamentos diários, mas que também temos muito a agradecer. O carro segue e volto a pensar nesse “despejo”, que até então estava atrasado. O que escrever quando chegar em casa? Que a minha coluna tem doído muito por passar a maior parte do tempo sentada? Que mesmo com um forte cansaço mental e físico, levo muito tempo para pegar no sono todas as noites? Que sinto raiva quando olho o jornal e vejo tanta desgraça causada pelo presidente que (DES)governa o nosso país? Que é muito triste acompanhar o número de mortes (que só aumenta) causado pela pandemia? 

É, realmente há uma lista gigantesca de momentos difíceis para "despejar". Mas será que aquele pôr do sol não foi um sinal? Será que os nossos dias atuais são compostos só por coisas ruins? Ou será que a gente se acostuma com as coisas ruins? Se acostuma a reclamar? 

Estamos em um contexto pandêmico que parece ser infinito. Mas se posso ficar em casa, é porque tenho um lar e a oportunidade de estar em distanciamento social, diferentemente de tantas pessoas que precisam se expor a riscos todos os dias para garantir seus empregos. Fico cansada de ficar em frente ao computador, mas lembro-me de que ao menos consegui comprar um notebook novo, quando o meu antigo resolveu me deixar na mão. Sim, fazer do lar um ambiente de trabalho/estudo é cansativo. Mas não precisar sair de casa nas manhãs frias e chuvosas é muito bom. Poder trabalhar/estudar com um café quentinho ao lado e com seu gatinho de estimação no colo é muito prazeroso. E ter um pai que fica por perto enchendo o chimarrão, sem fazer barulho para não atrapalhar a sua aula, não tem preço. E quando a coluna não aguenta mais, levantar e dar uma caminhada pelo pátio para comer uma bergamota no sol, ou simplesmente parar para olhar as plantinhas, também é ótimo (sim, comecei a colecionar suculentas na pandemia). Ah, e antes que eu me esqueça, inda não chegou a minha vez de tomar a vacina, mas também não fiquei doente, e as pessoas da minha família que tiveram covid estão vivas e estão bem. Preciso de mais motivos para agradecer?

Há algum tempo, vi um post no Instagran que dizia assim: “Eu me despedi da pessoa que mais queria no mundo, creio que sou capaz de suportar tudo na vida”. Fiz um print desse post e passei a pensar nessa citação nos dias ruins. Há três anos, eu me despedi da minha mãe, pessoa mais importante da minha vida, então acho que posso sobreviver a qualquer coisa, pois mesmo a saudade sendo imensa, tenho conseguido seguir sem ela, “vivendo um dia de cada vez”. Aliás, essa é outra citação a qual tenho me aliado: “um passo de cada vez”. Como diria o personagem Rock Balboa, "One step at a time, one punch at time, one round at time". Esse é o lema.

De fato, há uma lista sem fim de dificuldades diárias para “despejar”, mas se repararmos bem, veremos que também há muitas coisas boas acontecendo ao nosso redor que precisam ser valorizadas. 

Amanhã é outro dia. Se ao amanhecer “o sol bater na janela do meu quarto”, já será o suficiente para começar a agradecer.


"Quando o sol bater
Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só [...]"
Legião Urbana

Comentários

  1. Quem escreveu esse? Um abraço pra ti!

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  2. Bah, Tamires, como te conheço um pouco, pois fui tua professora e tua banca de MS, me emocionei... não tem muito o que dizer... sim, após perder a mãe, a gente enfrenta qualquer coisa... tinha 26 anos quando perdi a minha e pude compreender o que é ser uma criança órfã.... desenvolvemos resiliência... e sim, vários sinais que nos fazer grato por tudo que temos, inclusive as dificuldades...

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